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Olha, eu sei que isso é um sapo e não uma perereca. |
No primeiro dia em
que cheguei na cidade, tive vontade de morrer por conta do meu apartamento. Dei
aquela faxina maravilhosa e entre mortos e feridos umas 37 baratas que saíram
em desespero quando joguei veneno no armário da pia, não resistiram e
falaceram. Cogitei mil vezes pagar uma diária em um hotel daqui porque não
suportava a idéia de dividir meus primeiros dias de independência com baratas.
But, big girls
don’t cry, respirei e fiz a fergie. Encarei a noite no meu abafado, modesto e
pobre cafofo. No segundo dia, o número de morte reduziu para 15 baratas e no
terceiro, apenas cinco. Depois nunca mais tive problemas sérios com ela. Ou
seja, acostumei-me com as antigas moradoras, OK. BRINKS... não dá pra fazer
remake de Joe e as Baratas na vida real.
Pois bem, depois de semi me livrar das cascudinhas, pensando
que iria ficar um pouco mais à vontade no meu dolce lar ( só que isso é
impossível porque meu apartamento fede feito fralda suja ), a
vida me encarrega de achar mais uma parceira de cômodo. Uma roommate bem
descolada, na verdade, descolada é o que ela precisa ser menos.
Apresento a todos vocês, a única e inigualável: RAIMUNDINHA. Como já adiantei no título, trata-se de uma
perereca. É menor que um dedo mindinho, tem uma cor assemelhada com catarro
expectorado depois daquelas gripes bem fodidas e tipo, ela conseguia (yep, no
pretérito, em outro post conto o destino dela) dar conta de todo o banheiro, do
teto, ao chão, em duas puladas. E isso
significa apenas uma coisa: PRE-RI-GRO
A personalidade de Raimundinha pode ser descrita com uma
única palavra: DESDENHOSA (será um neologismo?). Dizem que gato é assim, mas a
minha princesa Marcela Jesuína não, é o contrário disso. Raimundinha era cínica, birrenta, tinha um comportamento com características disruptivas.
Impetuosa é a palavra certa.
Lembro do choque ao encontra-la pregada na parede do
banheiro, perto do chuveiro. Tão gosmenta, de aspecto frio. Quando o olhar dela
cruzou com o meu, imediatamente tentou fugir. Pulou tão alto que parou na
saboneteira (motivo pelo qual só uso sabonete líquido agora) e depois,
atordoada, pulou na louça do sanitário e nesse momento, agi como toda mulher
madura: fechei a porta e gritei com medo. Chorei porque, né, nada é fácil nessa
vida.
Mas eu mal sabia que era apenas um disfarce. Durante a
semana de sua descoberta, conheci o verdadeiro caráter e disfarçatez despudoroda
desta criatura. Lógico que comecei a usar cada vez menos o meu banheiro, passei
a tomar banho na casa da assistente social e parceira de trabalho, pois não
tinha quaisquer condições psicológicas de encarar aquele ser escatológico.
Notei que quando eu entrava no banheiro e ela se fazia
presente em alguma parede, Raimundinha olhava diretamente nos meus olhos e dava
rabissaca, o famoso olhar de desdém virando bruscamente a cabeça. Eu entendia o
recado e saia daquele ambiente hostil. Chamei meu vizinho para pega-la certa
feita, mas o demoniozinho se escondia sem deixar quaisquer vestígios.
Ela sumiu por uns três dias, aí no quarto, como ainda não a
tinha visto, resolvi, bravamente, tomar um banho. Tô lá, peladona, com a mão em cima do registro, pronta pra abrir o
chuveiro. Então, gente, escutei um SPLEGHT
- NÃO PODE C JESUS AMADO
Olhei pro alto e não vi nada na parede. Vi apenas um vulto
indo de direção ao chão e quando olho próximo aos meus pés, LÁ ESTAVA ELA. MEU
DUS DO CEU... quis morrer porque sim. Saí correndo pelada, ignorando qualquer
janela aberta, gritando e chorando. ELA QUIS ME MATAR AQUELA SONSA.
É difícil conviver com uma mente tão doentia quanto a de
Norman Bates. Foi torturante ir até o comércio local e percorrer um trajeto de
15 minutos do centro ao meu apartamento, com um penico na mão devido a
impossibilidade de usar meu próprio banheiro. Tive que fazer essa aquisição.
Assumo vergonhosamente.
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